Editorial

Uma solução, mas novas perguntas

Apesar da fala do ministro Ricardo Lewandowski, o caso Marielle Franco não encerrou no domingo. Os desdobramentos que levaram os três acusados à prisão são uma nova fase, que responde a principal pergunta e indica os porquês. Domingos Brazão, do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e Chiquinho Brazão, deputado federal pelo União Brasil, de acordo com o relatório da Polícia Federal, tinham interesse em questões habitacionais em áreas que a vereadora do PSol atuava e atrapalhava seus planos. Por isso, a morte. Era, inclusive, algo que já vinha sendo especulado durante os seis anos de espera.

No entanto, a participação detalhada do delegado Rivaldo Barbosa é o que mais causa espanto. Não só pela total falta de escrúpulos de um homem que jurou à família a investigação e solução de um crime que ele próprio teria arquitetado. Mas também pela vergonhosa conexão no nível mais íntimo entre autoridades de Estado - um ministro do Tribunal de Contas, um delegado titular da pasta de homicídios e um deputado - com o crime organizado.

Que a criminalidade e gestão pública andam de mãos dadas em muitos lugares não é segredo para ninguém. O Rio de Janeiro consegue ser um caso ainda mais ímpar. Só entre 2016 e 2020, seis pessoas eleitas para governar o estado fluminense estavam presas ou afastadas de cargos públicos por ligação com corrupção. No cinema, na televisão, na literatura, é bastante abordada essa intimidade entre poder e crime em um estado que viu as milícias se tornarem um poder paralelo, mais forte que o tráfico, mais poderoso que governos.

E é isso que tem que ser repensado urgentemente no Brasil. O Rio de Janeiro é o caso mais gritante, mas as conexões entre crime e poder são comuns. Quando a marginalidade passa a comandar forças de estado, como aconteceu no caso em que caiu na mão de um delegado um crime que ele mesmo arquitetou, é hora de realmente voltar para a estaca zero e reanalisar tudo. A forma como se propõe polícia no Brasil, a forma como se valoriza o trabalho do profissional de segurança e a questão fiscalizatória, como um todo, da atuação. Tais medidas, além de trazer qualidade ao serviço, deve servir de referendo ao bom e ético profissional que acaba vendo também sua atuação ser jogada no lixo por causa dos ruins.

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